terça-feira, setembro 05, 2006

Azulão - Por João Luis Nabo

Azulão …ou como é verdade o que muitos dizem!
A música une nações, costumam alguns dizer muitas vezes, apenas por dizer, porque é frase feita e as frases feitas inventaram-se para serem ditas, mesmo que não transmitam o que, na verdade, vai na alma do dizente.

A música é linguagem universal, aventa-se por aí, porque a palavra universal é, por si, bonita de se pronunciar, arrastando atrás um remoinho de coisas que não sabemos explicar. Mas temos consciência de que é assim, porque todos os povos do mundo, todos os que cantam ou tocam, usam as mesmas notas – sete, mas que são infinitas - para expressar o que por outra linguagem não é expressável.
O Azulão é um pássaro que inspirou uma música brasileira de Jayme Ovalle e Manuel Bandeira e que alguns coros portugueses acrescentaram ao seu repertório de concerto. Porque é uma canção leve, meio triste, romântica, ecológica, porque fala da urgência do amor, da paixão e da poesia da saudade. O texto é curto mas perfeito:
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Vai Azulão,
Azulão companheiro vai.
Vai ver minha ingrata,
Diz que sem ela
O sertão não é mais sertão.
Ah, voa, Azulão,
Azulão, companheiro vai...
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O Coral de São Domingos, de Montemor-o-Novo aprendera a peça havia alguns anos, tinha-a incluído num dos seus trabalhos discográficos e colocara-a on-line, sem nunca imaginar as consequências que tal gesto tão moderno lhe iria trazer. E ela lá ficou para quem quisesse ouvir.
Se a memória não me atraiçoa, em Julho de 2005, uma cidadã brasileira, chamada Márcia Ewald, membro de um coral da cidade de Embu das Artes (o Coral das Artes de Embu), passeando pela Internet, deparou-se com essa tal versão da peça que bem conhecia – Azulão –, ouviu o coro que a interpretava e enviou uma mensagem simples, amiga, simpática, como aquelas que os deste ofício sabem ter uns para com os outros. Que tinha ouvido e gostado, escrevera. E que o seu coro tinha uma versão da mesma peça.
Aos poucos, no visor do computador, hesitante porque era uma ousadia aquilo que ia escrever, fui teclando a resposta, mais ou menos assim: e se, um dia, cantássemos juntos, aqui, em Montemor?
Um ano depois, no dia 15 de Julho de 2006, o Coral de S. Domingos e o Coral das Artes de Embu protagonizavam na Igreja de São Domingos, em Montemor-o-Novo, Portugal, um concerto memorável em que a figura principal foi, tão simplesmente, um pássaro que deu nome a uma canção e que, como muitos dizem, por vezes não sabendo da verdade do que dizem, uniu dois grupos, duas cidades, duas nações.
Hoje não voltaria a responder à Márcia da mesma forma. Acrescentava-lhe ainda mais entusiasmo e gritava-lhe: é urgente a vossa vinda!
João Luís Nabo (Coral de S. Domingos de Montemor-o-Novo - Portugal)

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